Jardineiros e Velejadores

Jardinagem e velejadas.
Eis duas atividades que admiro e pratico sempre que posso.
Ambas têm em comum a comunhão com a natureza. Trazem condicionamento físico e paz de espírito. Além de nos ocupar de forma sadia, ambas podem nos ensinar muito e fazer crescer, tanto como indivíduos quanto como líderes e gestores.
Na jardinagem, aprendemos a paciência. Há um tempo certo para plantar e outro para florescer. Há que podar e proteger. Retirar o mato e extirpar as ervas daninhas. Remover folhas secas e galhos mortos. Só assim, se alcança o privilégio de acordar com a festa dos pássaros que buscam as frutas, contemplar borboletas e beija-flores e aspirar o perfume de rosas e jasmins.
Velejando, conhecemos a imprevisibilidade da vida. Os ventos aceleram ou param, mudam de direção e nunca são constantes. As correntes e as marés podem contribuir ou obstaculizar o alcance dos objetivos. O ajuste das velas e do leme é ciência e é arte, exige atenção permanente do timoneiro e perfeita sintonia entre os tripulantes. Jardineiros e velejadores têm a minha admiração.
Quem dera um número maior de nossos líderes pudesse praticar tais atividades em silêncio e com humildade. Aos jardineiros e velejadores dedico esta coletânea de artigos publicados nos últimos anos. De certo modo, o livro é a continuidade de duas obras anteriores, Sementes Republicanas (2014) e Construtores de Catedrais (2017), publicadas pela Entrelinhas Editora, de Cuiabá.
Desde então, mudanças aconteceram em nosso país, em grande medida resultantes das prolongadas crises econômica e política. Mudaram alguns personagens do noticiário cotidiano, uns alçados ao status de novas celebridades/autoridades na vida pública, outros relegados ao ostracismo e até à prisão.
Mas, na essência, permanecem os problemas do país, entendidos como as condições que limitam a capacidade de desenvolvimento pleno das potencialidades humanas do seu povo. Mudaram as circunstâncias, mas não mudaram as minhas convicções como cidadão, amante da democracia, dos direitos humanos, da proteção ao meio ambiente, opositor à intolerância religiosa, racial, de gênero e a quaisquer formas de discriminação.
Contudo, diferentemente dos livros anteriores, neste é menor a proporção de artigos eminentemente técnicos, abordando aspectos relacionados às minhas atividades profissionais e acadêmicas. Eles estão presentes, é claro, pois continuo a escrevê-los, mas, ao organizar a coletânea, intuitivamente fui selecionando em maior número textos de caráter mais pessoal e reflexivo. Ao completar 60 anos, reuni 60 artigos que, acredito, constituem um conjunto representativo de lições que aprendi velejando e jardinando.
Boa leitura! Bons frutos e bons ventos!